Neste início de mais um ano de atividades, o Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES) receberá a professora Dra. Zélia Amador de Deus, da Universidade Federal do Pará (UFPA), para ministrar a Aula Inaugural 2020. A aula terá como tema “Diálogos contemporâneos da Universidade com os movimentos sociais” e será ministrada no dia 2 de março, às 15h, no Auditório do Prédio das Pós-Graduações do Instituto de Tecnologia (PGITEC) da UFPA, com transmissão ao vivo, pela Internet, no endereço www.aovivo.nitae.ufpa.br.
A aula dará as boas-vindas não só ao novo semestre letivo, como, também, à quarta turma de Mestrado Profissional em Ensino do Programa, aprovada no último Processo Seletivo. O objetivo de sua realização é reunir os docentes e discentes do Programa, assim como a comunidade acadêmica e o público em geral, ao redor de um tema bastante pertinente ao contexto contemporâneo e à área de atuação em Ensino.
A fala da professora Zélia irá colaborar para um maior entendimento do que a Universidade tem feito e o que ainda precisa fazer como instituição de ensino e pesquisa promotora de ações determinantes na construção de um mundo mais equilibrado. A atuação dos movimentos sociais na Academia tem, historicamente, reconfigurado realidades e conquistando espaços que, antes, não eram ocupados por alguns dos diferentes povos que integram a nossa sociedade. Como forma de resistência, tais movimentos demandam e incentivam a construção de políticas institucionais que promovam e garantam essas oportunidades como direitos fundamentais.
Contexto desafiante
A UFPA, em particular, é um bom exemplo de busca de soluções para esse cenário. Em meio aos problemas vivenciados pela educação no país, a instituição possui o desafio de ser uma das universidades brasileiras com o maior número de alunos de graduação, mais de 51 mil, distribuídos por seus campi da capital e dos municípios do interior, bem como pelos seus polos de educação a distância. De acordo com pesquisa “V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos (as) Graduandos (as) das IFES – 2018”, realizada pela Associação dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), desse total de alunos, a maioria é de universitários pretos, pardos, amarelos, quilombolas e indígenas, com 78,4% de alunos da UFPA pertencentes a estes povos, acompanhando a realidade nacional.
Tal quantitativo é um dos resultados, e também um dos motivadores, da existência de diversas iniciativas institucionais para inclusão e apoio a esses alunos na UFPA, a exemplo do Processo Seletivo Especial (PSE) para candidatos indígenas e quilombolas, e o PSE-MIGRE, para candidatos(as) internacionais em situação de vulnerabilidade socioeconômica, como refugiados(as), imigrantes, asilados(as), apátridas e vítimas de tráfico de pessoas.
Esta Aula Inaugural, mostra-se, portanto, essencial para os acadêmicos e para o público em geral, por fomentar o conhecimento, a reflexão e o papel de ações afirmativas nesse contexto educacional.
Uma voz a se ouvir
Para falar sobre esse tema, poucos seriam tão indicados quanto a professora Zélia Amador de Deus, uma das mais respeitadas acadêmicas que atua na UFPA, instituição na qual ingressou como docente de Magistério Superior em 1978. Graduada em Letras, também pela instituição, e uma das primeiras alunas do, então, Serviço de Teatro da Universidade do Pará (STUP), hoje Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), Zélia possui uma trajetória ligada ao campo das Artes e das Humanidades, tendo sido uma das fundadoras do Núcleo que, hoje, é o Instituto de Ciências da Arte (ICA), do qual é professora e onde desenvolve regularmente atividades de ensino, pesquisa e extensão.
Vale ressaltar que a professora Zélia, mulher negra, é uma das mais potentes ativistas do movimento negro no Pará e no Brasil, tendo sido uma das fundadoras, em 1980, do Centro de Estudo e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa); integrante da comissão brasileira na 3ª Conferência Contra o Racismo, da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 2001 na cidade de Durban, África do Sul; responsável pela implantação do Programa de Ação Afirmativa do Ministério do Desenvolvimento Agrário, entre 2001 a 2003; co-fundadora do Grupo de Estudos Afroamazônico da UFPA (GEAM), em 2003; membro da Comissão Técnica Nacional de Diversidade para Assuntos Relacionados à Educação dos Afro-Brasileiros (CADARA), criada em 2005; ex-presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), de 2010 a 2012; e participante ativa da criação do sistema de cotas para negros nas universidades brasileiras.Seu percurso na instituição conta, também, com diversas posições de liderança, como a de diretora do antigo Centro de Letras e Artes da UFPA, no período de 1989 a 1993, e como Vice-Reitora da UFPA, de 1993 a 1997. Atualmente, a professora é coordenadora-geral da Assessoria de Diversidade e Inclusão Social (ADIS), instituída em outubro de 2017, com o objetivo de ser responsável pelo planejamento, coordenação, definição, implementação e acompanhamento das políticas de ações afirmativas nas diversas Unidades da UFPA. Tal assessoria institucionaliza e amplia uma longa trajetória da Universidade na promoção de oportunidades e inclusão de grupos que, historicamente, têm seus direitos violados ou restringidos.
Por suas inúmeras contribuições à sociedade e à Universidade no desenvolvimento de ensino, pesquisa, extensão e políticas afirmativas no campo das Artes e das Humanidades, a professora Zélia Amador de Deus receberá, em 2020, o título de Professora Emérita da UFPA, uma importante conquista, sendo ela a sexta mulher a receber tal honraria na instituição.