Para iniciar o seu quarto ano de atividades acadêmicas e dar as boas-vindas aos novos discentes, o Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES), vinculado ao Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE²) da Universidade Federal do Pará (UFPA), realizou na tarde de segunda-feira, dia 2 de março, a sua Aula Inaugural 2020, com o tema “Diálogos contemporâneos da Universidade com os movimentos sociais”, ministrada pela Profa. Dra. Zélia Amador de Deus, coordenadora da Assessoria de Diversidade e Inclusão Social (ADIS) da UFPA. O evento ocorreu no auditório do Prédio da Pós-Graduação do Instituto de Tecnologia (PGITEC), foi transmitido ao vivo pelo endereço www.aovivo.nitae.ufpa.br, e contou com a participação de professores e alunos do Programa, bem como de alunos da educação básica, da Escola Estadual Frei Daniel.

A coordenadora do Programa, Profa. Dra. Marianne Kogut Eliasquevici, proferiu a fala de abertura do evento, agradecendo a presença da professora Zélia em um momento especial para o Programa, de recepção aos candidatos aprovados no último Processo Seletivo. Além disso, destacou que o tema da Aula possibilita a reflexão sobre o papel de cada um dentro da Universidade e dá indicativos de como pensar os produtos e pesquisas desenvolvidos no âmbito de um Mestrado Profissional em Ensino.

A partir de sua própria trajetória, profissional e de vida, a professora Zélia compartilhou com o público o entendimento sobre qual o papel das universidades diante dos movimentos sociais e o quanto estes são importantes para a transformação de contextos e realidades.

Para a professora, os movimentos sociais, historicamente, têm contribuído para a redução das desigualdades e para a construção de políticas institucionais que possam atender a todos os povos que integram a sociedade como mulheres, negros, indígenas, pessoas com deficiência, entre outros. “Os movimentos sociais fazem com que a sociedade seja mais solidária”, destacou. De acordo ela, o papel das universidades é estabelecer um diálogo permanente com os movimentos sociais e com a sociedade como um todo, para conhecer e compreender as demandas existentes e desenvolver ações, políticas e/ou projetos que fomentem a inclusão.

A professora explicou que, durante muito tempo, as instituições de ensino superior tinham um perfil muito específico de alunos: brancos e de classe média alta. As chamadas “minorias”, como os quilombolas, eram somente objetos de estudo e pesquisa, mas não escutados e incluídos nos ambientes das universidades. Atualmente, esse cenário mudou, graças às conquistas dos movimentos sociais dentro das instituições, que passaram a se preocupar mais com a justiça social e em se aproximar da sociedade. Como exemplo das iniciativas institucionais que se deram a partir da escuta aos movimentos sociais, Zélia citou a implantação do curso de graduação em Etnodesenvolvimento, ofertado pela UFPA, com o objetivo de atender aos povos indígenas e quilombolas.

 

O papel da comunidade acadêmica nas lutas sociais

Zélia Amador de Deus ressaltou que a principal preocupação e prioridade dos professores, tanto dos que atuam na educação básica, como na superior, precisa ser a de transformar a sociedade. “Todo docente tem que ter como meta modificar realidades dentro do contexto que estão inseridos. E como faz isso? Não existe receita pronta. É na prática que se consegue resultado, tentando e lutando”, expressou. Para a professora, as universidades progrediram na forma de atuar socialmente, entretanto, ainda é dever de todos continuar buscando melhorias. Ela chamou a atenção para a situação das cotas, pois, em breve, tal iniciativa será revista no Congresso Nacional e pode ser cancelada se não houver movimentação popular.

 

Participação do público na aula

Após a fala da professora, foi aberto um momento para perguntas e diálogos com o público. O estudante do terceiro ano da Escola Estadual Frei Daniel, Saulo Wesley, que também se apresentou como “MC PDR”, agradeceu as palavras da professora Zélia e aproveitou a ocasião para compartilhar um pouco sobre sua experiência de vida e dificuldades em trabalhar com o estilo musical hip hop, que também é visto com muito preconceito por parte da sociedade. Saulo disse que atua com a recuperação de jovens dependentes químicos e que a música o salvou. Sobre estudos, ele afirmou que é preciso aprender, ter conhecimento para que as pessoas não o diminuam. O estudante finalizou sua fala improvisando algumas rimas em estilo hip hop.

A discente Ana Paula Dias, aprovada para a nova turma do Programa, disse se identificar com a história de vida da professora Zélia Amador e com as lutas que vivenciou. Ana, assim como a professora, cursou Licenciatura em Letras e também é a primeira pessoa da família a ingressar no ensino superior, o que a faz se sentir orgulhosa da sua trajetória e identidade. “Quando eu li no título da aula “Diálogos”, eu fiquei me perguntando que diálogos seriam esses. E eu vi que hoje conversamos sobre um pouco de tudo, na presença de alunos da UFPA, alunos do ensino médio de uma escola estadual e acho que isso é diálogo. É isso o que devemos fazer, abrir as portas para todos e dialogar como iguais”. A discente terminou a sua fala afirmando que Zélia Amador a representa como mulher.

A Aula Inaugural marcou o início do ano letivo no PPGCIMES-UFPA e foi seguida, no dia seguinte, por uma sessão de acolhimento aos novos discentes, com diversas apresentações e dinâmicas. As aulas regulares iniciam a partir do próximo dia 12 de março e, em breve, ocorrerão as Defesas de Dissertação da segunda turma do Programa, bem como os Exames de Qualificação da terceira, os quais serão amplamente divulgados para a comunidade acadêmica.