Com o intuito de discutir como pessoas com deficiência visual percebem as cores, foi realizada na manhã desta quinta-feira, dia 14 de dezembro, a palestra “A construção criativa de conceitos de cor por pessoas com cegueira congênita”, ministrada pela Profa. Dra. Flávia Mayer, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no auditório do prédio do Programa de Pós-Graduação em Geofísica (CPGf) da Universidade Federal do Pará (UFPA).

Palestra discutiu como é a percepção das cores para pessoas cegas

A palestra foi iniciada com uma apresentação sobre o que seria a criatividade. A professora defendeu que é importante desmistificar o pensamento de que pessoas com deficiência não podem ser inventivas e criativas. De acordo com pesquisas e referências acionadas por Flávia, a criatividade é algo inerente ao ser humano. Isso significa que todos são dotados de capacidade criativa e, por isso, desenvolvem formas de perceber e representar o mundo distintas entre si. Cada ser humano tem formas diferentes de apreender melhor o que lhe rodeia, ou seja, não há uma única forma de experimentar.

Assim, a professora apontou que pessoas com deficiência visual possuem uma outra forma de compreender o entorno delas, por fazê-lo utilizando outros canais de percepção que não a visão, tais como o tato, o olfato, o paladar. Essas percepções despertam (ou são despertadas por) lembranças, vivências e experiências, que por fim, os remetem às cores ou, segundo a professora, para sensações de consciência ligadas às cores.

A palestra suscitou diálogos a respeito do tema

Essa questão foi o tema da pesquisa de doutorado realizada pela professora Flávia, que durante a pesquisa, ouviu depoimentos de cegos congênitos que associavam cores a sentimentos, lembranças e outras experiências sensoriais, como o nascer do sol ser ligado à coloração verde por remeter ao jardim na casa da mãe; ou até mesmo a noção de que o vermelho pode representar perigo, bem como é a cor que simboliza algumas ideologias e movimentos políticos. Flávia Mayer comenta: “O marrom não é como o tronco da árvore. Ele é o tronco da árvore. Essa é a projeção que a pessoa faz. E essas projeções são similares às nossas quando, por exemplo, associamos o choro à tristeza”.

Para o Prof. Dr. Marcos Diniz, docente do Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES), a palestra provocou novas formas de entender e perceber o mundo: “Eu saio dessa palestra completamente diferente de como entrei. O que discutimos aqui quebra vários preconceitos a respeito da questão da pessoa cega, mas também da forma de percepção de cor e da própria ideia do que é cor. E quando você incita discussões desse tipo, isso é de um valor extremo para a comunidade acadêmica e para todos que estiveram aqui assistindo. É disso que vive a academia, dessa construção e desconstrução de conceitos e pré-conceitos”, afirma o professor.

 

Docentes e discentes do PPGCIMES, bem como demais membros da comunidade acadêmica, estiveram presentes

Este evento completa o ciclo de palestras abertas da Profa. Dra. Flávia Mayer, realizado pelo PPGCIMES e pelo recém-implantado Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE²) da UFPA, estabelecido em reunião do Conselho Universitário da UFPA (CONSUN), a partir de transformação da Assessoria de Educação a Distância (AEDi). Além desta, o ciclo contou com a palestra “Audiodescrição: características, legislação e campo de aplicação”, realizada no mesmo local e horário. A professora também ministrou aulas para os discentes do PPGCIMES e participou de agenda de trabalho com docentes do Programa.