Ao ouvirmos falar sobre ciência, não é difícil conectarmos a palavra a um contexto como o de um laboratório, um grande museu, ou mesmo uma biblioteca. Outro espaço logo ligado ao que entendemos como ciência é a Universidade, a qual tem, por natureza, uma forte atuação na pesquisa científica, bem como com em ensino e extensão. Entretanto, será que a ciência está assim tão intrínseca a apenas determinados lugares? Quais os outros momentos de nossa vida em que ela estaria presente ou que seria bom que estivesse?

Essas foram algumas das reflexões suscitadas pela fala do prof. Dr. Ivo Leite Filho, Coordenador-Geral de Popularização da Ciência (CGPC) do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que, no dia 28 de maio de 2019, esteve na Universidade Federal do Pará (UFPA), a convite do Programa de Pós-Graduação Criatividade e Inovação em Metodologias de Ensino Superior (PPGCIMES), para a palestra “A pesquisa na educação básica: o papel da escola, do professor e do aluno”, que teve lugar no Auditório do Prédio das Pós-Graduações do Instituto de Tecnologia (PGITEC) da UFPA e contou com transmissão ao vivo, pela internet, por meio do endereço eletrônico www.aovivo.nitae.ufpa.br.

Tal palestra, ou melhor, diálogo do professor com a plateia, fez parte de uma série de atividades de pesquisa que o mesmo participou junto ao PPGCIMES e ao grupo do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE²). A pergunta norteadora da fala do professor, que também é docente da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), foi “Como fazer divulgação e popularização da ciência quando se está no âmbito escolar?”. A pergunta, aparentemente simples, propunha amplas reflexões, entre elas, qual o nosso entendimento sobre pesquisa e, mesmo, sobre o que acreditamos que deva haver, ou não, de condições para a pesquisa científica em uma escola básica.

Como bem trouxe o professor Ivo, a ciência está para além dos espaços formais. Está, por exemplo, nas nossas experiências de vida, muitas das quais levaram, e levam, durante a história, a importantes e significativas descobertas científicas. A partir de alguns casos que ilustravam essa discussão, o professor questionou: como é possível criar sem ter a oportunidade de experimentar? Para ele, existe uma criatividade presente na vida, nos jovens, nas crianças, que precisa ser melhor percebida pela escola.

Como é típico de sua formação em Química, o professor utilizou, como representação visual de uma ideia ou conceito, um diagrama que apresentava a Ciência, a Tecnologia e a Inovação de mãos dadas com a Curiosidade, a Motivação e o Senso de Interesse, os quais podem ser despertados nos jovens em idade escolar por meio do incentivo à Pesquisa. Esses são valores muito cobrados daqueles que ingressam nas Universidades. Entretanto, como é possível cobrar isso dos universitários se, antes desse momento, especialmente em um contexto como o nosso, brasileiro, não houve um incentivo ou mesmo uma iniciação ao fazer científico?

Perguntou o professor Ivo: como desenvolver o interesse pela pesquisa na Universidade sem que esse “charme” do conhecimento científico tenha sido trabalhado durante o período escolar? Para ele, a escola, que deveria ser uma oportunidade prazerosa para o aprendizado, com diversidade de instrumentos para desenvolvimento de competências, tem dado pouco espaço para a criatividade, valor este primordial para a atuação na pesquisa científica. O que é o conhecimento? O que é a ciência? De acordo com o professor Ivo, os valores clássicos greco-romanos, mesmo que distantes no tempo, ainda são muito presentes nos nossos ambientes formais de aprendizado, em especial na Universidade. Entretanto, como disse o professor, o primeiro passo para a ciência deveria ser o diálogo, a conversa. “O resto é consequência”, completou ele.

A necessidade, depreendida da fala do professor com o público, é de uma maior presença e incentivo à ciência no ambiente escolar. Um ambiente complexo, vívido, marcado por profundos problemas, mas também cheio de possibilidades. “A ciência permite trabalhar com as diferenças”, diz o professor, mostrando que esse talvez seja um caminho possível de ser seguido na amenização de desigualdades, de reparação de injustiças histórias. A criatividade, para ele, tão presente em diversos fazeres dos jovens em idade escolar, pode ser, no fim, um sinal de interesse dos mesmos pelo conhecimento e, portanto, uma porta para o seu desenvolvimento.

“Além de conhecedores da ciência, temos que aprender a olhar o mundo pelos olhos de quem não conhece essa ciência”. Com essa e outras falas, o professor Ivo inspira a olhar o mundo com outros olhos para que, a partir disso, atuemos em sua transformação.